Ganhou fama o documentário da Netflix “Dilema das Redes“, por seu suposto caráter revelador das intimidades das mídias sociais. O comentário de Maria Pereda* mostra o contrário.
Segundo ela, os engenheiros saídos das gigantes do Vale do Silício mostram apenas o que os os antigos patrões querem que seja visto pelo público, de forma a criar um novo normal para as redes sociais. Os riscos à democracia e à saúde dos internautas, em especial os mais jovens, dominaram as entrevistas coligidas e são reais. Mas Pereda afirma que a exposição é calibrada para reforçar a importância de cada um em se conectar e transferir à inteligência artificial tudo sobre quem é, como pensa e chega às suas conclusões sobre as coisas da vida.
O problema não é o meio, a tecnologia e os recursos financeiros, mas o mau uso das informações pessoais, individualizando a abordagem a cada um para levar, por meios distintos, todos a uma mesma conclusão sobre o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que não é.

Funciona mais ou menos assim: cada um pesquisa de um jeito e recebe um retorno diferente, de acordo com as características antes digitadas e armazenadas, de modo que todas as mentes, cada qual por seu caminho, recebem uma promessa de prazer se seguirem no rumo indicado pelo líder cada vez menos humano.
A acadêmica detecta um centro autoritário, quase totalitário, que achata mentes e oprime indivíduos, buscando a acomodação dos bons sob seus ditames. Conclui afirmando que cada ser humano tem que ser único, plenamente desenvolvido e ético, para depois se unir à coletividade por sua própria conclusão.

Há algo, no entanto, que talvez ela mesma não tenha percebido e, por isso, não se libertado de todo das teias das mídias tecnológicas. A contradição entre liberdade e concentração do capital não pode ser resolvida sem o concurso dos produtores de riqueza, desbaratando o mecanismo concentrador do seu usufruto, do qual as redes tratadas no documentário são um meio, não exatamente o fim de seus proprietários. Ao comentar a resenha de Daniel Cury, a palestrante mostrou-se surpresa com a acusação direta do comentarista ao capitalismo, pelo mau uso do saber que vamos construindo.

Maria Pereda é química e doutora em farmacologia, estudiosa do desenvolvimento humano e criadora e difusora do Método de Integração.
Infelizmente, as durezas provocadas pelos despreparados e serviçais governamentes ao grande capital muitas vidas se foram por negligência dos sistemas.
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