Fábrica de fazer fábricas

Não é de hoje, no Brasil, que a indústria de bens de capital tem feito mais água que máquinas. Mas um conjunto de comentários nas redes sociais recomenda o registro de alguns aspectos dessa questão chave da nacionalidade.

É antiga a discussão sobre a primazia desse setor em relação a todas as demais atividades econômicas. Por óbvio que pareça, não são todos que o entendem assim: nos anos 50 do século passado discutia-se na União Soviética, país que mais crescia no mundo, se a prioridade da produção industrial deveria ser a produção de máquinas ou de bens de consumo.

Em vida, Stalin defendeu o primado das fábricas de “fazer fábricas”, como se autointitulam os integrantes da Abimaq brasileira. À sucessão, a ordem foi invertida e gradativamente o crescimento econômico minguou até dar passo à demolição do antigo regime socialista.

Comentários nas redes sociais são unânimes em um ponto: a indústria no Brasil retroage em importância no sustento do desenvolvimento nacional.

A Pesquisa Industrial Mensal do IBGE mostra queda em todos os ramos industriais nos últimos anos, mais acentuada que se trata dos bens de capital. Tomando-se por base a situação da indústria brasileira em 2012, a queda geral em dezembro de 2019 era de 13%, mas no setor mais fundamental superou os 25%!

Todo um conjunto de fatores concorreu para tal fenômeno.

Para o economista José Oreiro, da UnB, “25 anos de câmbio valorizado e juros altos podem ter produzido danos irreversíveis à indústria brasileira, que agora, quando o juro está baixo e o câmbio depreciado, terá de ser ‘ressuscitada’ a partir do zero.”

A política tarifária que não tributa a importação de equipamentos sem similar nacional também fez muitas vítimas. Foi prática comum entre fabricantes estrangeiros cessarem a produção de tal ou qual equipamento no Brasil, unicamente para traze-los de suas matrizes no exterior a preço de custo, sem impostos. A interrupção da atividade no Brasil não se limitava a modelos próprios, mas estendia-se a concorrentes comprados e fechados por aqui.

Nem sempre o Brasil adotou políticas contrárias ao domínio da técnica e ao empreender nacionais.

Ramos como a siderurgia e a produção de energia tiveram na iniciativa estatal a mola mestra da emergência nacional; significativos investimentos em pesquisa permitiram a empresas nacionais como a Petrobras alcançar profundezas inéditas na indústria petroleira; proteção de mercado em ramos tão diversos como autopeças e informática permitiu ao empresariado nacional formar uma linha de suprimento para montadoras aqui e lá fora e avançar bastante na tecnologia bancária, configurando o Brasil como líder planetário nas transações financeiras online.

Como ressuscitar?

Recuperar a autoestima é um bom começo. Como é prática de todas as empresas, reter os melhores cientistas e técnicos e atrair do estrangeiro aqueles que, como os professores de ginástica olímpica ucranianos, possam ser mestres da nossa gente nas novidades científicas e técnicas.

Mas isso não é tudo: a prioridade das compras estatais deve recair sobre os produtores industriais genuinamente nacionais, inclusive aqueles que se associam ao que há de melhor no planeta em termos de inovação dos métodos de produção.

Criatividade é o que não falta à esta gente bronzeada. O que falta é compromisso público com o desenvolvimento nacional, mas estamos chegando lá.

Publicado por Iso Sendacz

Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, conselheiro da Casa do Povo, EngD, CNTU e Aguaviva, membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil. Foi presidente regional e diretor nacional do Sinal. Nascido no Bom Retiro, São Paulo, mora em Santos.

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